domingo, 24 de julho de 2011

A impressão musical no Brasil - Parte 6

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Casa Levy Pianos em uma foto de 1870  - Rua XV de Novembro - São Paulo
São Paulo - Em meados do século passado, começaram a surgir em São Paulo as primeiras músicas impressas nas oficinas de Gaspar & Guimarães (1863), Henrique Schroeder (1865), José Maria dos Santos (1869) e Jules Martin (Rua São Bento, 37), mas só mais tarde, no final do século, surgiu um serviço regular de impressão de músicas, com a firma Levy Filhos.

Henrique Luís Levy, francês de nascimento, vendedor de jóias e clarinetista, veio para o Brasil em 1848 e, em sua vida de vendedor, fizera amizade com a família de Carlos Gomes, em Campinas SP, participando de vários concertos e tendo mesmo acompanhado o compositor em sua primeira viagem à capital do Estado, em 1859. No ano seguinte abriu loja para venda de jóias, na Rua do Rosário, 2, passando logo a vender também músicas. Foi precursor nesse ramo de negócios com Jean-Jacques Oswald, que em 1857 abriu o Depósito de Pianos e Músicas da Rua da Casa Santa (hoje Rua Riachuelo), 10.

Em 1868, porém, Oswald retirou-se com a família para a Europa, onde seu filho Henrique Oswald deveria completar seus estudos de música. Henrique Luís Levy associou-se, em 1864, ao compositor Emílio Eutiquiano Correia do lago, mas quatro anos depois estava desfeita a sociedade, continuando ele com o Depósito de Pianos, Músicas e Instrumentos, até 1891, na Rua da Imperatriz (hoje Rua Quinze de Novembro). A firma passou então para seus dois filhos, Luís Levy e Alexandre Levy, ambos pianistas e compositores. Levy Filhos começaram a publicar regularmente música, com chapas numeradas (L. ... F.). Não tinham chegado ainda a uma centena, quando a firma mudou para L. Levy & Irmão, com chapas (L. I).

Em 1892, morreu prematuramente Alexandre, o mais talentoso como compositor, sendo que seu pai sobreviveu a ele ainda quatro anos. Com a morte do irmão, Luís assumiu a direção da Casa Levy, continuando a publicar principalmente obras suas e de seu irmão Alexandre, música sertaneja, de dança, hinos, marchas etc., sempre na Rua da Imperatriz, atingindo mais de 400 as peças publicadas até o final da década de 1920. A casa Levy funciona até hoje, mas só para venda de músicas e instrumentos, tendo-se mudado da Rua da Consolação, 381, onde se achava até 1974, para a Rua Azpilcueta, 547, sendo de propriedade dos Irmãos Vitale.

Antônio Di Franco, italiano, tinha, no início da década de 1910, um estabelecimento musical na Rua São Bento, 59, com representação de várias editoras européias, entre elas Schott Frères (Bruxelas, Bélgica) e A. Gaizelli (Paris, França), e imprimia músicas em oficina própria, com chapas numeradas (A.D.F. ...). Publicou um Catálogo e por volta de 1919 já contava com mais de 700 peças impressas.

Em 1921 comprou, com o sócio Francesconi (Di Franco & Francesconi), o Estabelecimento Musical Santa Cecília, na Rua Sebastião Pereira, 21, que vendia, principalmente, instrumentos, e pertencera de 1918 a 1920 a Castagnoli & França. Este imprimia também uma dezena de peças numeradas (C ... F.), sendo sucedido por José França, que continuou a imprimir (J. ... F). A sociedade Di Franco & Francesconi teve pouca duração, continuando com Di Franco & Cia. Por volta de 1922, com a morte do proprietário, encerrava suas atividades.

João Campassi, gravador italiano que viera para o Brasil a chamado de A. Di Franco, estabeleceu com o sócio Pedro Angelo Camin a firma Campassi & Camin — Casa Editora Musical Brasileira (C.E.M.B.), na Avenida Brigadeiro Luís Antônio (1914). Em 1919 adquiriu a Casa Sotero, então localizada na rua Líbero Badaró. Mudaram pouco depois para a rua Direita e mais tarde para a rua São Bento. Fundaram filiais em Santos SP, Rio de Janeiro RJ e Araraquara SP, mas a crise de 1929 obrigou a liquidação desses estabelecimentos. Posteriormente, um grande desfalque praticado por empregados de confiança provocou a concordata da firma em 1933.

Com o objetivo de ajudar a viúva de Di Franco, de quem era parente, constituiu, com parte do acervo original, a Casa A. Di Franco, na Rua São Bento, 50, para venda de instrumentos e músicas, funcionando como redação da revista ilustrada Anel (1923-1929), dirigida inicialmente por Antônio de Sá Pereira, periódico informativo e noticioso sobre o movimento, não apenas musical, mas também de “teatro, arte, literatura e atualidades sociais”.

Contemporâneo de A. Di Franco, o Estabelecimento Musical Sotero de Sousa Ed., na Rua Libero Badaró, 135, iniciou, por volta de 1915, a publicação de músicas, com acentuada preferência pela música sertaneja, canções populares, operetas etc., todas as peças com chapas numeradas (S. ... S.), quase 200. Em 1920, a casa entrou em liquidação e foi em parte comprada por Campassi & Camin — Grande Estabelecimento Musical Campassi & Camin (antigo Sotero de Sousa), mantendo-se depois o nome de Casa Sotero, na Rua Direita, 47. Quatro anos mais tarde já tinha filial em Santos.

Em outubro de 1928 publicaram o 22 Catálogo de música (peças com chapas numeradas até 3.530). Entre 1927 e 1929 tiveram uma filial no Rio de Janeiro, na antiga Rua República do Peru, da qual foi gerente Eduardo Souto. Publicaram, além de métodos e obras didáticas, vasto repertório de música para piano, violino, canto, música de dança, as conhecidas coleções Cine-orquestra e Brasil-orquestra, com repertório para pequenos conjuntos instrumentais, e a Biblioteca pianística, coleção de peças para piano revistas por Luigi Chiaffarelli, Agostino Cantú e Outros.

Em 1920 a firma enfrentou sérias dificuldades financeiras, passando a ser propriedade de Agostino Cantú. No ano seguinte os endereços eram Rua Direita, 37, e São Bento, 42. Em 1932 o Catálogo C.E.M.B. passou para as Edições Musicais Derosa — Rua Álvaro de Carvalho, SA. Continuaram a publicação de peças, seguindo a mesma numeração, primeiro com as iniciais (E.d.R. ...) e mais tarde (D. ... R.). Em 1934 a numeração das chapas era cerca de 5.100 e em 1937 ia a té cerca de 5.280. Por volta de 1940 passou para Impressora Moderna Ltda.— IML., no mesmo endereço, continuando a impressão de músicas, com obras de Agostino Cantú, Fabiano Rodrigues Lozano, Francisco Mignone e outros, atingindo por volta de 5.500 peças. Vendida depois para a Editora Lítero-Musical Tupi 5/A — Rua Sete de Abril, 176, hoje é propriedade das Casas Editoras Musicais Brasileiras Reunidas CEMBRA Ltda., na qual os Irmãos Vitale têm participação.

Em meados da década de 1910, o compositor Francisco Russo imprimia alguma música em sua loja, Casa Ítala, na Rua do Arouche, 30. Por volta de 1919 instalou-se na Rua General Carneiro, 30, mudando o nome da loja para Casa Mignon, como sucessora do Estabelecimento Musical Pietro Mascagni, de propriedade de Attilio Izzo (imprimira cerca de 10 peças numeradas A. ... I.). Em 1920 mudou-se para a Rua Libero Badaró, onde vendia instrumentos e música. Em 1921 mudou o nome da firma para Francisco Giunta Russo e no ano seguinte montou oficina própria para impressão de músicas, mudando novamente o nome da casa para Casa Wagner (antiga Casa Mignon). As peças eram numeradas (C. ... W.). De 1951 em diante, a firma passou para Evaldo Mário Russo — Casa Wagner, e de 1954 até hoje Casa Wagner Ed. Ltda., tendo-se mudado em 1960 para a Rua Barão de Itapetininga, 207/2 andar. Imprimem principalmente material didático, peças para piano (principiantes), acordeão, violão e cantos escolares.

A Casa Manon de Facchini & Zanni, na Rua do Carmo, 20, imprimia desde 1918 alguma música de salão. Em 1920 mudaram-se para a Rua Boa Vista, 48. De 1948 em diante, têm publicado principalmente música para acordeão e métodos para instrumentos. De 1955 em diante o endereço passou a ser Rua Vinte e Quatro de Maio, 242.

Pedro Tommasi, com Estabelecimento Musical na Rua Boa Vista, 55, desde 1918, começou a publicar música em 1920, mantendo-se durante alguns anos, mas com produção reduzida.

Em setembro de 1923 Vicente Vitale iniciou atividades em São Paulo, começando no ano seguinte a publicação de música popular nacional e estrangeira. Associando-se a seu irmão Emllio, logo depois incorporaram-se os outros irmãos: João, Afonso e José, formando a Empresa Editora Musical Irmãos Vitale, na Rua Conselheiro Ramalho, 187. Em 1931, estenderam o âmbito de suas publicações com a compra da Edição Brasília de Nicollini e Pó, incluindo obras de Johann Sebastian Bach (1685—1750), Ludwig van Beethoven (1770—1827), Frédéric Chopin (1810—1849) etc. Tiveram inicialmente como orientador musical o compositor Lorenzo Fernandez, responsável pela Edição cosmos — com finalidade didática, compreendendo obras de compositores brasileiros e estrangeiros, Edição Panamérica e Edição Orfeu — uma seleção de obras corais de autores brasileiros.

Atualmente a direção artística da editora está entregue ao maestro Sousa Lima, e o Catálogo da empresa compreende obras de compositores estrangeiros, mas com acentuada preferência pelos autores brasileiros, dentre eles Heitor Villa-Lobos, Francisco Mignone, Lorenzo Fernandez, Barroso Neto, os irmãos Levy, Sousa Lima, Dinorá de Carvalho, Osvaldo Lacerda, Manos Nobre, Almeida Prado e outros.

Outras séries publicadas: Edição métodos, Edição álbuns, Edição orfeão, Edição violão, Edição musarmônio etc. Cada série com numeração independente: Música popular do nr. 1 até 1.000 e depois de 2.000 até aprox. 20.000. Em 1970 publicaram um Catálogo geral de música popular brasileira (125 p.), tendo incorporados os catálogos: Brasil-ritmos Vitale e Catálogo Ernesto Augusto de Matos, com obras de Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Patápio Silva etc. O repertório de música estrangeira e obras de Villa-Lobos, Mignone etc.: do nr. 1.000 até 2.000, continuando de 20.000 em diante.

Periodicamente publicam um Guia temático com as peças dos programas dos conservatórios, classificadas por ordem de dificuldade, e em 1973, comemorando 50 anos de atividade editorial, publicaram um Suplemento Vitale, além dos catálogos de material didático, instrumental etc., publicados regularmente. Desde 1942 dispõem de loja para venda das Edições Vitale na Rua Direita, 115 — Casa Bevilacqua, adquirida da firma J. Carvalho & Cia., que havia sido representante das Ed. Bevilacqua em São Paulo.

Em 1926 a Ed. Ricordi, de Milão, Itália, abriu filial em São Paulo, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio
— G. Ricordi & Cia., pondo à disposição do público vários catálogos, notando-se a predominância de material didático. Em Catálogo publicado em abril de 1929, já figuravam os seguintes compositores brasileiros: Barroso Neto, Agostino Cantú, Lorenzo Fernandez, Paulo Florence, Luciano Gallet e Henrique Oswald.

Criada a Ricordi Americana, na Argentina, voltaram- se para o Brasil no intuito de desenvolver a produção do país, fundando em 1943 a Ricordi Brasileira S/A— E.C., atualmente com endereço na Rua Conselheiro Nébias, 1.136. A orientação da editora continua a mesma, como se observa do Extrato do catálogo geral de 1973 (102 p.), com predominância de compositores brasileiros contemporâneos, entre os quais Francisco Mignone, Osvaldo Lacerda, Ernst Mahle, Almeida Prado, Camargo Guarnieri, Rufo Herrera, Gilberto Mendes, Guerra-Peixe, José Siqueira, Ernst Widmer, Cláudio Santoro, Kilza Setti, Breno Blauth, Marlos Nobre e Bruno Kiefer.

Por volta de 1928, I. Chiarato & Cia. Ed., na Rua Santa Efigênia, 28, iniciaram a publicação de peças para piano, canto e violino (Biblioteca violinística brasileira), na maioria de compositores paulistas ou radicados em São Paulo, cerca de uma centena de peças numeradas (I.C. ...). Em 1930 L. G. Miranda comprou a firma mantendo o nome de Casa Chiarato (mesmo endereço), ano quem que já haviam publicado pelo menos três pequenos folhetos, como catálogos. Responsáveis pelo lançamento da quase totalidade das obras sobre música de Mário de Andrade, demonstravam grande interesse também pela produção musical contemporânea, tendo em estoque, para venda, obras de Darius Milhaud (1892—1974), Paul Hindemith (1895—1963), Igor Stravinsky (1882—1971), Vittorio Rieti (1898—), entre outros. Em 1931 mudaram-se para a Avenida São João, onde continuaram publicando música até cerca de 1935.

Estevam Sciangula Mangione, de nacionalidade italiana, chegou ao Rio de Janeiro em 1927, vindo da Argentina. Iniciou atividades com um balcão para venda de músicas em conjunto com André Barbosa & Cia., associando-se depois a Luís Gonzaga (filho de Chiquinha Gonzaga), no primeiro andar da Rua da Carioca, 55, com a firma Estevam S. Mangione, que iniciou a publicação de músicas, mas ainda sem oficina própria. Em 1930 tentaram, sem sucesso, a instalação de uma gráfica, e desde 1927 possuíam a loja A Melodia, na Rua Gonçalves Dias, 40. O endereço passou a ser depois Rua do Ouvidor, 160/1o. andar.

Nessa ocasião vieram para São Paulo, onde se instalaram na Rua da Liberdade, 96, com escritório, residência e oficina. Francisco Mignone foi o primeiro orientador e conselheiro musical da firma, além de se incumbir da revisão das peças. A firma, então E. S. Mangione, assim se manteve até 1944, quando passou a Editorial Mangione Ltda. Música popular brasileira foi o que predominou inicialmente na produção da editora, além de material didático, algumas obras de Francisco Mignone, João Baptista Julião, Radamés Mosca etc. Em São Paulo alugaram loja de música com J. Paulo Cristóval — Casa Beethoven — Rua Direita, 25 (de 1935 a 1942), para venda do material publicado.

Desde 1934 são os editores autorizados, mediante contrato, para impressão das obras do Catálogo E. Bevilacqua, mantendo idêntica situação com o Catálogo da Casa Viúva Guerreiro. De 1952 a 1968 passaram a Sociedade Anônima Mangione e depois Mangione e Filho Sociedade Coletiva. A produção da casa até hoje atinge cerca de 2.600 peças (numeração iniciada em 10.000, portanto 12.600), mais o acervo de música popular — cerca de 6.400 peças.

Bandeirante Editora Musical Ltda., Rua do Seminário, 165 / 2o. andar, iniciou atividades por volta de 1945, publicando música popular brasileira, repertório de acordeão e material didático, orientação que manteve até 1972, quando passou à propriedade da Fermata do Brasil. A produção ultrapassa 6.000 peças.

Enrique Lebendiguer, de nacionalidade polonesa, chegou ao Rio de Janeiro, vindo de Buenos Aires, Argentina, onde era sócio de Brenner nas Ediciones Internacionales Fermata — FBA. Colaborou inicialmente com as Edições Musicais Rio, Praça Marechal Floriano, 55, entrando mais tarde de sócio e acabando proprietário da editora. Em 1950 veio para São Paulo, iniciando publicação de música popular brasileira e estrangeira. Em 1966 comprou a Editora Santos Dumont, de Mário Zan, e em 1968 tornou-se proprietário do Catálogo Ed. Artur Napoleão, publicando, nesse mesmo ano, um extrato do referido catálogo, com as obras de autores brasileiros. 

Em 1972 comprou a Bandeirante Editora Musical Ltda., formando, com várias outras editoras menores de música popular, o Grupo Editorial Fermata. A aquisição do Catálogo Ed. Artur Napoleão constituiu para a editora um apreciável enriquecimento de acervo, pois até então dedicavam-se quase exclusivamente à publicação de música popular. 

 Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - São Paulo - 2a. Edição - 1998.

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